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“Estamos no fundo do poço”, diz Genoino sobre Congresso

Ex-presidente do PT critica rejeição de vetos ambientais e aponta crise institucional crescente

José Genoino (Foto: ABR)

247 - O ex-presidente do PT José Genoino concentrou sua análise em entrevista à TV 247 na derrota do governo com a derrubada dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao que chamou de “projeto da devastação ambiental”. No debate, o ex-dirigente avaliou a decisão parlamentar como um marco da degradação política atual. 

O ex-parlamentar afirmou que a reação do Congresso ao tema ambiental revela uma crise profunda na relação entre Legislativo e Executivo.

Genoino classificou a votação como simbólica da pior fase institucional recente. Segundo ele, a rejeição de 56 dos 63 vetos representa um sinal de esgotamento da capacidade de diálogo com a atual maioria parlamentar. “É uma derrota para o país, é uma derrota para o meio ambiente, é uma derrota para a civilização e é a demonstração de que o Congresso Nacional chegou no fundo do poço”, afirmou. Em sua avaliação, o ambiente político está marcado por “barbaridades, atrocidades, vinganças e baixo nível”.

Genoino argumentou que o cenário decorre da composição eleita em 2022, que, segundo ele, consolidou um bloco de direita e extrema direita com pautas guiadas por interesses limitados. “O objetivo da direita e da extrema direita no Congresso é formar essas maiorias em torno de interesses pequenos, de interesses do vale tudo”, disse. Para o ex-deputado, a deterioração institucional se reflete nas relações de setores do Congresso com grupos econômicos e escândalos recentes. “Olha as relações promíscuas que esse pessoal tem com bets, que aparece nessas operações carbono oculto, que aparece agora na refit”, afirmou.

Ao defender que a esquerda precisa adotar uma postura mais firme, Genoino destacou que o problema extrapola o governo. “Essa degradação é uma derrota para eles, não é uma derrota pro governo. Porque isso vai custar caro se nós soubermos mostrar que essa maioria congressual tem que ser enfrentada em 2026”, disse. Para ele, a disputa eleitoral deve se orientar pela denúncia dessa composição parlamentar. “A maioria do Congresso é inimiga do povo brasileiro e essa maioria que nós temos que derrotá-la na eleição de 2026”.

Genoino também relacionou o episódio à ascensão de grupos extremistas no hemisfério ocidental. “Essa extrema direita que emerge do porão da política neoliberal, imperialista, emerge de uma solução para os problemas centrais do país”, observou. Ele apontou como elementos desse processo a violência, o enriquecimento fácil e o avanço de práticas que fragilizam o papel do Estado, abrindo espaço para interesses privados e para o crime organizado.

Sobre possíveis respostas institucionais, Genoino defendeu uma ação combinada do governo no campo jurídico e no diálogo direto com a sociedade. Para ele, recorrer ao Supremo Tribunal Federal é necessário, mas insuficiente. “Nós não podemos resolver essa crise só no âmbito judicial. Nós temos que entrar na justiça e ao mesmo tempo fazer um movimento da sociedade”, afirmou. Ele ainda defendeu que o presidente participe de forma mais ativa do debate público. “O Lula tem que fazer um pronunciamento. A comunicação do governo tem que agir rapidamente para mostrar o que significa esse projeto da devastação”.

O ex-presidente do PT também relacionou a crise ao que considera tentativas de redução do poder presidencial pelo Legislativo. Segundo ele, há um esforço contínuo para subordinar o Executivo às negociações internas do Congresso. “O objetivo maior deles é desidratar o presidencialismo para que, através do Congresso Nacional, eles defendam os interesses da oligarquia financeira, das privatizações, dos americanos”, declarou.

Durante a entrevista, Genoino foi incisivo ao afirmar que o atual modelo de relação política se esgotou. “Esse modelo tem que ser revisto. Não dá mais. Com esse Congresso não tem jeito para ter um país civilizado, decente e democrático”, disse. Para ele, a estratégia deve se concentrar em alianças pontuais, mobilização social e reconstrução de uma base parlamentar mais sólida.

Ao final, Genoino reforçou que o momento exige enfrentamento político claro. “Nós estamos vivendo os estertores desse fundo do poço. Ou nós pressionamos o Congresso a partir da sociedade, ou então vamos ficar prisioneiros desse caos”, concluiu. Assista:

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